Gilberto Maringoni


 Sobre a "Marcha da Família" em 2014
 
A Folha de S. Paulo novamente mostra seus interesses de classe. Dar atenção a um nano grupelho reacionário e promovê-lo nacionalmente diz muito sobre o passado desse jornal golpista. A diferença é que, como diria Marx, a história (1937) se repete primeiro como tragédia (1964-69) e depois como farsa (2014).

Os "gorilas" continuam intoxicados pela ideologia anticomunista das cartilhas da CIA, que foram distribuídas pela ESG, promovidas pela mídia golpista e pelas instituições como IBAD e IPES. Atualmente, anticomunismo virou senso comum associado à visão caricata da Venezuela, difundida pelos meios de intoxicação pública.

Os "gorilas" são tão esclerosados que se esquecem de uma coisa. Quase toda história política e econômica brasileira do tempo presente fora escrita em 1964 com o apoio deles (os "gorilas", hoje chamados de "coxinhas") ao Golpe cuidadosamente planejado pelas classes dominantes (oligarquias, burguesias locais) e pelos EUA, que usaram as forças armadas brasileiras como marionetes para desenvolver o capitalismo monopolista dependente nos trópicos.

Os militares brasileiros tornaram-se, após 64, lacaios da Doutrina de Segurança Nacional dos EUA contra a URSS. Internacionalizaram a economia brasileira, submetendo-a totalmente aos interesses privatistas e imperialistas do capital financeiro internacional.

O chamado "neoliberalismo" apenas exacerbou essa tendência que vem desde o Governo Dutra, passando pelos anos JK. O "neoliberalismo", desde os anos 1940, conta no Brasil como uma linhagem de ideólogos como Otávio Gouveia Bulhões, Roberto Campos, Delfim Neto e Fernando Henrique Cardoso, que ocuparam posições políticas de ministros e de presidente, onde colocaram em prática seu pensamento antivarguista e anti-"populista".  

Os comunistas, no Brasil, foram perseguidos desde que fundaram seu partido político, o qual era inexpressivo em 1922, mas se tornou notável  em ocasiões como 1935, 1947, 1964. Os comunistas foram deliberadamente difamados no Brasil pelas classes dominantes. Eram chamados de comedores de criancinhas, inimigos da pátria. Eles foram banidos dos sindicatos de trabalhadores e do jogo político em 1947 pelo governo do conservador em política e liberal em economia Eurico Gaspar Dutra, o qual era um representante dos interesses das oligarquias agrárias e dos EUA. Ele acatou prontamente o macartismo doentio estadunidense.

Apesar de todas as limitações teóricas dos comunistas daqueles idos, eles estiveram ao lado dos interesses nacionais e democráticos, lutaram pelos direitos e interesses dos trabalhadores, embora acreditassem na "burguesia nacional". Ao contrário do que diz a direita golpista, os comunistas tentaram o jogo da pequena política, mas foram banidos dele, proibidos de existir enquanto organização partidária. Ainda assim, eles se infiltraram em outros partidos e sindicatos e jogaram o jogo democrático. Apesar de defenderem a insurreição das massas, os comunistas não foram golpistas, os golpistas saíam dos quartéis, da ESG e seguiam à risca as diretrizes dadas pela CIA e pelo Pentágono.  

Hoje, porém, sabemos de duas coisas: 1) quem come criancinhas não são os comunistas, mas os "representantes de deus", os  portadores da "graça do espírito santo"; 2) a "família" de hoje representa o parentesco burguês, não existe tal qual o novo ou velho testamento. A "marcha da família com deus e pela liberdade" significa basicamente: marcha da direita raivosa e golpista contra a democracia, contra as conquistas sociais dos trabalhadores nos governos Lula e Dilma, contra a pluralidade de valores, contra os movimentos sociais populares, contra as manifestações populares recentes, contra toda migalha de direitos sociais que existe no país.

Que fique claro para a direita golpista. O custo Brasil não provém dos direitos trabalhistas, mas da remuneração do capital estrangeiro e do imperialismo pela superexploração do trabalho. O custo Brasil provém da especialização do país em exportar mais valor.  A "Marcha da família" é a expressão de um setor da direita, exprime bem a incapacidade dela de reconquistar o executivo pelas urnas. Não que o PT seja um partido ideologicamente à esquerda. Sob chavões moralistas, a direita quer ditadura para acabar com nossos direitos e terminar de passar as reformas neoliberais exigidas pelo grande capital.

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