Eleições 2014 e a proibição das liberdades individuais


Os discursos contra as liberdades individuais (contra o aborto, contra a comunidade LGBTS, contra a regulamentação das drogas) apregoados pelos candidatos da direita brasileira (Pastor Everaldo, Levy Fidélix, Eymael, Marina Silva, Aécio Neves) são a mais pura expressão da violência, do proselitismo e do autoritarismo inerentes à "cultura brasileira". Mostram que as classes dominantes, nutridas por um sentimento fundamentalista cristão, preferem apenas o aspecto mais pernicioso do liberalismo, o que defende a privatização do Estado brasileiro, o latifúndio, o agronegócio, a exportação de commodities, o superavit primário, restringindo-se à economia-política. 

Tais candidatos, figuras do conservadorismo e do reacionarismo tupiniquins, são produtos nacionais, efeitos do legado, do vazio político-cultural deixado pela Ditadura civil-militar (1964-1986). Infelizmente, esses políticos conquistaram corações e almas de muitas pessoas, que se identificam com eles graças ao trabalho de base de evangélicos, de católicos e do Pig (Partido da imprensa golpista).

Pode ser que a ausência de alfabetização política do povo brasileiro, a despolitização como processo histórico deliberado das classes dominantes e de seus títeres políticos, explique essa identificação dos trabalhadores assalariados, do proletariado com esses e outros inimigos do poder popular, democrático. Embora também haja um interesse de classe recôndito no eleitorado mais abastado e detentor de pequenas e grandes propriedades. 

Em todo caso, Sílvio Romero nos ensina: não subestimemos a capacidade de discernimento político-eleitoral do povo brasileiro, em seu tempo restrito, pois abrangia homens, brancos, letrados e proprietários! Nada mais anti-democrático do que os preconceitos contra a capacidade de escolha do candidato pelo voto popular. Com efeito, a  ignorância  não provém do "povão", mas do processo histórico e político presidido pelas oligarquias e pela burguesia locais que fê-lo assim como é hoje. 

No Brasil, como ensina Florestan Fernandes, as classes dominantes têm mais consciência política de sua posição na sociedade, na economia e, através do processo político e do controle das instituições políticas brasileiras, mantêm seus privilégios estamentais de classe, do que os trabalhadores, a grande massa que vive do próprio trabalho e não dispõe de consciência de seus interesses de classe fundamentais. As classes dominantes têm o poder de transformar, através da destruição do ensino público básico e do monopólio da comunicação, os candidatos de esquerda em personagens folclóricos, infantilizados e anódinos. Porém, não têm o poder de controlar as contradições que movem a história nos países subdesenvolvidos e dependentes.

Até quando subordinaremos os anseios e os direitos da juventude, das LGBTS, das mulheres à religião e à bíblia? A fé em Deus, o tradicionalismo justifica a coerção às liberdades individuais ou trata-se de uma interpretação da fé cristã, afinal, o cristianismo defende ou não o livre-arbítrio? Não chegou a hora de deixar a capela de fora dos três poderes burgueses?

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